domingo, 21 de setembro de 2008

Sonho, Saga e Amor de Apolônio de Carvalho

Marcelo Mário de Melo

No dia 29 de outubro Apolônio de Carvalho, 85 anos, autor do livro de memória “Vale a Pena Sonhar”, editado pela Rocco, estará participando de festa de lançamento na livraria Quinta do Livro. Com prefácio de Antônio Cândido e pós-facio de Silvana Goulart, o livro traça uma trajetória militante que começa nos anos 30, enfrentando a ditadura Vargas, passa pela Espanha, na luta dos republicanos contra o franquismo, chega à França, na resistência ao nazi-fascismo, retoma ao Brasil e continua a saga até os dias atuais.

Personagem internacional, Apolônio de Carvalho, oficial de artilahria, teve a patente cassada em 1936 e foi preso, convivendo na prisão com figuras como Graciliano Ramos e Apparyccio Torelly, o famoso Barão de Itraré. Libertado, sai do país e se torna comandante militar na guerra civil espanhola, lutando ao lado da república contra as tropas franquistas. Na resistência francesa, combatendo o nazi-fascismo, foi o responsável militar pela região sudeste e comandante da zona sul, sediada em Lyon. Comandou a libertação de Carmaux e Albi e Toulouse.

No Brasil, Apolônio foi presidente da União da Juventude Comunista, cassada em 1947, antecipando a cassação do PCB. Quando houve o golpe militar de 1964, Apolônio compunha o Comitê Central do PCB. Integrando a chamada Corrente Revolucionária do partido, participou da fundação do PCBR – Partido Comunista Brasileiro Revolucionário, em 1968, sendo o seu primeiro secretário geral.
Em 1970, aos 58 anos, foi preso, resistiu à prisão e teve um comportamento heróico ante às torturas, desmoralizando os torturadores e impondo o respeito nos porões da repressão. Seis meses depois de preso, Apolônio de Carvalho foi trocado, junto a outros presos políticos, pelo embaixador alemão, seqüestrado por uma organização revolucionária brasileira. Seguiu para a Argélia e, daí, radicou-se na França.Retornando ao Brasil em 1979, Apolônio participou da fundação do Partido dos Trabalhadores e foi eleito seu vice-presidente. Por recomendação médica, afastou-se da direção do PT em 1985.

É seguindo essa trajetória que se desenrola a narrativa de Apolônio de Carvalho, num texto em que a reafirmação do antigo sonho socialista não se fecha ao espírito crítico sobre as posições políticas de partidos e tendências da esquerda, nem às suas próprias posturas individuais, diversas vezes classificadas como marcadas pelo dogmatismo e a confiança cega nas instâncias partidárias superiores.

As memórias de Apolônio de Carvalho, hoje com 85 anos, passam uma atmosfera de objetividade e viço que constitui uma difícil eqüidistância entre o tom bombástico e apologético das “testemunhasde Jeová” da política e a cantilena sado-masoquista dos socialistas ou ex-socialistas globalizados e desencantados.

Amor nas trincheiras - Na introdução do seu livro, Apolônio diz que não agradece a Renné, sua companheira, porque o livro é, também, a sua história. Eles se conheceram em 1942. Pertencendo a uma família de comunistas franceses, Rennée já tinha uma irmã e uma tia na prisão. Com atuação na Juventude Comunista, integrou-se na resistência ao nazi-fascismo, conhecendo Apolônio. Os dois passaram a atuar juntos. Ele, como comandante militar. Ela, participando de operações e no transporte de explosivos.
Entre tocaias e tiros o amor floresceu e o casal se firmou, escrevendo uma história de conciliação entre a luta popular e o leito copular. O primeiro filho, René-Louis, nasceu na França em dezembro de 1944, ainda em tempo de refrega e de fogo. O segundo, Raul, nasceu no Brasil em fevereiro de 1947. E logo depois a família teve de viver na clandestinidade, com a cassação do registro legal do PCB e a perseguição aos comunistas.

A parceria revolucionária com a mulher se estendeu aos dois filhos, que passaram a atuar como militantes e terminaram presos, em fevereiro de 1970, durante a ditadura militar. Renné-Louis foi trocado, em janeiro de 1971, pelo embaixador suíço seqüestrado. Raul foi libertado em setembro de 1973.

Rennée e Apolônio Vivem no Rio e estarão juntos no lançamento, em Recife, do “Vale a Pena Sonhar”. Para Apolônio será um retorno, pois ele já esteve aqui, antes de 1964, ministrando cursos de marxismo. Como dirigente do PT, também participou de reuniões nesta capital, na década de 80.
Press Release, Recife, 1977

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